terça-feira, 7 de setembro de 2010

Artur Pinheiro, o ginasta guarda-redes

Pinheiro no Barreirense
Artur Pinheiro terá sido dos mais jovens guarda-redes a estrear-se na Primeira Divisão, decorria a época de 1951-52, num Salgueiros - Barreirense disputado na cidade do Porto. Mas a sua paixão pelo futebol começou bem mais cedo.
Na "moderna vila industrial e operária" do Barreiro, no início dos anos 40, Artur Pinheiro era um dos muitos jovens que praticava o futebol do pé-descalço, guardados que eram os sapatos para os bailes de domingo. Filho de um negociante de sucata, Artur cedo demonstrou apetência para a baliza, e começou a praticar futebol oficialmente nas equipas jovens do Barreirense. Corria, então, a época de 51-52 quando Francisco Silva, guardião titular da equipa do Barreirense, se lesionou. Perante a urgência de encontrar um substituto, a direcção pediu uma autorização especial para utilizar o jovem Pinheiro, na altura, com 17 anos. A viagem para o Porto, segundo Artur Pinheiro, foi um espectáculo. "Quando estava no balneário, um dos directores chegou ao pé de mim e perguntou-me se eu estava preparado para tamanha responsabilidade. Eu sorri para ele e respondi-lhe que uma grande responsabilidade tinha um condutor de transportes de crianças. Jogar futebol era um divertimento". Não terá sido sem algum pavor que o dirigente do Barreirense ouviu tão insolentes palavras. Mas a verdade é que Pinheiro conquistou o público que assistia ao jogo nessa tarde, acabando o Barreirense por sair vencedor da contenda. Durante essa época, ainda com idade júnior, haveria de disputar 14 jogos na Primeira Divisão.
Mas como, na altura, o futebol não era ocupação que garantisse a subsistência de ninguém, o pai de Artur Pinheiro chamou-o para uma conversa. Estava na hora de fazer uma escolha: ou voltar à escola ou aprender um ofício. Consultou-se o Presidente da Câmara do Barreiro, amigo da família, e o jovem Artur começou a partilhar os dias entre treinos e aulas na Escola de Soldadores, em Belém. Diz o próprio, "na altura, eu era um Rodolfo Valentino. Usava brilhantina, vestia bem. Para além disso, toda a gente queria cumprimentar o Pinheiro. Aparecia nos jornais e as pessoas queriam falar comigo". Pinheiro completou seis épocas na primeira categoria do Barreirense, partilhando a baliza com o já referido Francisco Silva e Isidoro. Em 57-58, deu-se a sua transferência para o SCU Torreense. "O dinheiro da transferência havia sido conseguido entre alguns empresários de Torres Vedras, entre os quais o administrador da Casa Hipólito. Quando cheguei à cidade, encontrei-me com ele e disse-lhe que gostaria de trabalhar na empresa. Como já tinha aprendido o ofício, tornei-me funcionário da Casa Hipólito, onde fiquei muitos anos". Com a camisola do Torreense fez duas épocas na Primeira Divisão. Reconhecido como um grande atleta, "chegava a ir a correr de Torres Vedras a Santa Cruz, dando meio volta e voltando para casa. Toda a gente dizia que o Pinheiro era maluco, mas como eu não era muito alto, tinha que ter ginástica para sobressair na baliza". É provável que o jogo de maior destaque que Pinheiro disputou na Primeira Divisão tenha sido o último. Na última jornada do Campeonato de 58-59, Pinheiro foi considerado um dos melhores em campo, num jogos frente ao FC Porto. O Torreense acabou por sair derrotado por 0-3, sendo que o Porto festejou o título nacional com uma vantagem de apenas um golo sobre o Benfica.
Artur Pinheiro nunca representou a Selecção Nacional, tendo, no entanto, participado nos treinos da Selecção Militar. Disputou, na altura, a titularidade com Dinis Vital (Lusitano de Évora), mas um dedo fracturado na véspera de uma viagem a Itália, deixou-o sem qualquer internacionalização. "Estava destinado a não ir a Itália." No final da sua carreira, deixou o Torreense para representar o Caldas e o Peniche, na altura na 3ª Divisão. Pinheiro tinha 38 anos, mas na reunião com o Presidente do GD Peniche, foi deixado à vontade para pedir o quanto queria para assinar contracto. Sendo que ele mantinha o emprego na Casa Hipólito, pediu para receber o mesmo ordenado que os outros guarda-redes da equipa, mais 60 contos de luvas. "O Presidente esfregou as mãos e passou-me logo o cheque. Quando saí da reunião, sentei-me num banco de jardim, lá em Peniche, e quase chorei. Se tivesse pedido 200 contos, eles tinham-mo dado". Foi a sua última época como jogador. Depois disso, dedicou-se à sua actividade profissional de soldador, tenho trabalhado em Portugal e na Alemanha. Hoje em dia, Artur Pinheiro é um homem orgulhoso da sua carreira. É impossível não notar como brilham os seus olhos, sempre que lhe relembram algum dos seus feitos na baliza.

(As citações foram recolhidas durante uma conversa com Artur Pinheiro. Um especial agradecimento ao Rui Malheiro pela disponibilização de dados sobre a carreira do atleta na Primeira Divisão)

1 comentário: