domingo, 12 de dezembro de 2010

A Lenda do Sporting sem cabeça

(Foto: Hugo Correia/Reuters)

A equipa leonina não resistiu a um Vitória concretizador no momento de decidir o jogo, perdendo por 2-1 nos oitavos de final da Taça de Portugal.

A noite estava agradável em Setúbal, mas o primeiro quarto de hora foi de uma sensaboria atroz, deixando prever o pior neste jogo da quinta ronda da Taça. As duas equipas pareciam encaixar uma na outra, com o Sporting a ter mais bola, mas o Vitória a mostrar-se sempre capaz de controlar um conjunto de leões sem garra. Foi preciso esperar pelo minuto 17 para ver Hélder Postiga conseguir a primeira oportunidade, isolando-se após uma triangulação com Liedson, com o remate a sair ao lado da baliza de Diego. Logo a seguir, outra vez Postiga, a conquistar espaço de manobra para rematar de fora da área, com o esférico a passar por cima do poste sadino.

O Sporting tinha mais bola mas foram os setubalenses quem encontrou o caminho para o golo. Aos 29 minutos, Cláudio Pitbull centrou do lado direito e Ney surgiu a concluir de cabeça, na pequena área, não dando oportunidade de defesa a Rui Patrício. Os centrais leoninos voltavam a errar, comprometendo o ascendente do seu ataque. Aos 33 minutos, segunda oportunidade para o Setúbal, segundo golo. Jogada de envolvimento com a bola a mudar de flanco, da direita para a esquerda, Miguelito colocou a bola na frente da baliza e Zeca, que começara o jogo no banco, finalizou, antecipando-se a Anderson Polga.

A história do jogo estava definida nesta primeira meia hora. Os homens de Alvalade detinham a bola mas jogavam sem cabeça, desleixando na zona defensiva e apresentando uma intermediária sem qualquer intensidade nos momentos de levar a bola para a frente. O Sporting de Paulo Sérgio é uma equipa totalmente órfã de uma filosofia de jogo que defina os momentos da equipa na partida. Valdés esteve apagado, Maniche e André Santos não foram os dínamos que os verde e brancos precisavam para continuar em prova na Taça de Portugal.

O início da segunda parte não trouxe novidades. O Sporting teve uma boa oportunidade aos 51 minutos, com Polga a rematar ao poste no seguimento de um pontapé de canto, mas ficou por aí a reacção leonina. No minuto seguinte, Jaílson isolou-se na área adversária e caiu, com os setubalenses a pedirem uma grande penalidade que parece não ter existido. Paulo Sérgio decidiu, à passagem da hora de jogo, alterar o figurino da sua equipa, na esperança de conseguir, pelo menos, empatar a contenda. Corriam os 61 minutos de jogo quando Vukcevic entrou para o lugar de Evaldo e o Sporting passou a jogar com apenas três defesas (Carriço, Pedro Mendes, Polga), apostando na presença nas alas do montenegrino e de João Pereira.

O Vitória conseguia organizar-se defensivamente e oferecia muito pouco espaço para que o Sporting pudesse dar a volta ao resultado. No entanto, aos 75 minutos, reapareceu Liedson, que há já algum tempo não marcava. Aproveitando um deslize da defensiva sadina, o internacional português ajeitou a bola do lado esquerdo da área e colocou-a ao segundo poste, conseguindo um golo de belíssimo efeito que voltava a dar esperanças aos adeptos sportinguistas que viajaram até à margem sul.  No entanto, viriam a revelar-se vãs as ambições leoninas. Os setubalenses conseguiram travar as iniciativas do Sporting, fazendo com que o tempo corresse a seu favor.

Num jogo onde a arbitragem de Olegário Benquerença deixou muito a desejar, com foras-de-jogo e faltas por assinalar, a equipa de Manuel Fernandes venceu muito justamente um Sporting que continua, em Dezembro, com os mesmos problemas que revelou nos finais de Agosto: trata-se de uma equipa sem liderança e sem capacidade de atacar ostensivamente um adversário mais frágil. Falta, ao Sporting, confiança e inteligência para conseguir mostrar, dentro das quatro linhas, as ambições que anuncia ter em cada conferência de imprensa. Fora da Taça de Portugal e da corrida pelo título nacional, resta agora a Europa e a Taça da Liga para que os leões salvem a presente época. Se essa luta será feita com ou sem Paulo Sérgio, é algo que ninguém, neste momento, arriscará prever.

As figuras

Zeca – o miúdo que o ano passado jogava na 3ª Divisão com a camisola do Casa Pia, começou o jogo no banco mas, chamado à partida aos 22 minutos, deu ao Vitória aquilo que a equipa precisava: velocidade, rebeldia e sentindo de oportunidade, revelado na jogada do segundo golo setubalense. Um atacante com chama, a merecer a atenção de clubes com mais altas ambições.

Diego – foi o guardião do último reduto sadino. A ofensiva leonina não criou muitas oportunidades, mas o keeper brasileiro esteve sempre muito calmo e resolveu o que apareceu para ser resolvido. Foi ele o pêndulo de uma equipa que soube sempre o que fazia no relvado do Bonfim: ultrapassar mais uma etapa na caminhada até ao Jamor.

Hélder Postiga e Liedson – estes dois homens não merecem a equipa que têm. Postiga é um lutador incansável, sem nunca desistir de todas as bolas que chegam à sua área de intervenção. Liedson acumula experiência e categoria, acabando por obter um golo que merece ser recordado como um dos melhores da competição. No entanto, para lá desta dupla, a equipa leonina é um deserto. De ideias, de soluções, até de vontade. E sem onze jogadores, não se faz uma equipa grande.

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