terça-feira, 31 de agosto de 2010

Vem aí a Taça

No próximo fim-de-semana começa a grande competição nacional do futebol português, começando por, nesta primeira eliminatória, juntar as equipas da 2ª e 3ª divisões nacionais.
Os olhares de todos vão estar no Municipal de Chaves, onde o Desportivo local, finalista da Taça do ano passado, recebe o Amares. Apesar do adversário não apresentar um grande historial, o facto da equipa de Chaves ter tido vários problemas para a formação do plantel e formalização da respectiva inscrição, para além do facto de as surpresas da Taça raramente se repetirem em anos seguidos, poderá fazer com que o Desportivo acabe por sair cedo da competição.
O reencontro com a história dar-se-à em Sacavém, no velhinho campo do Sacavenense. A equipa dos arredores de Lisboa receberá uma outra equipa há muito afastada das competições nacionais, o Sport Clube Alba, de Albergaria-a-Velha. Para os fantasiosos seguidores da 3ª Divisão, este será um encontro a não perder.
Por último, destaque para Complexo Desportivo da Tocha onde o União local receberá o meu muito querido SCU Torreense. Na equipa da casa, o treinador José Viterbo tentará lançar mais algumas jovens promessas no futebol nacional, sendo que este ano as atenções estarão concentradas em jovens como o guarda-redes Pedro Carvalho (ex-União de Leiria), o avançado Mateus (ex-Naval) e nos defesas César (ex-Naval) e Nicolas (formado no clube). Do lado do SCU Torreense, uma semana agitada que inclui a dispensa do capitão de equipa, Paulinho. Mas os olhares estarão todos em Fábio Paim, uma promessa várias vezes adiada no nosso futebol, agora a tentar a sua sorte no histórico de Torres Vedras, depois de ver terminada a sua ligação ao Sporting Clube de Portugal.
Domingo, será dia de Taça. Milhares de corações baterão mais forte em todo o país. Em todos eles, a esperança de ver a sua equipa entrar no relvado do Jamor, no último jogo da época.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O norte-coreano Mr. Po


Hwang Po nasceu em Wonsan, na República Popular da Coreia do Norte, em 1945. Aos dezasseis anos viajou para Pyongyang onde foi viver em casa dos tios e preparar-se para entrar na Universidade. Desde jovem que lhe reconheciam o talento para duas coisas: jogar futebol e escrever. Po soube, também, que o seu futuro estaria irremediavelmente ligado a esses dois fenómenos. Em Wonsan jogava apenas com os seus amigos, mas quando chegou à capital, prestou provas no Pyongyang City Sports Group, uma equipa acabada de fundar havia poucos anos. Po jogava nas segundas categorias, enquanto se dedicava arduamente aos estudos. Entrou na Universidade para o curso de Comunicação Social, começou a trabalhar num diário da capital como estagiário e treinava sempre que o tempo lhe permitia. Comparado com os jogadores da capital, era agora apenas um jogador sofrível, mas Po preferia pensar que isso se devia à sua trabalhosa vida de estudante dedicado. Tão dedicado, até, que concorreu e venceu um difícil concurso cujo prémio era desejado por todos os estudantes da Universidade. Uma viagem a Inglaterra para acompanhar os sucessos da equipa nacional no Mundial de 1966.

A chegada a Middlesborough, onde a equipa norte-coreana disputou todos os jogos da primeira fase, logo fez com que Po percebesse que a realidade da Europa era muito mais apropriada aos seus desejos de jovem jornalista. E assim, quando não estava em Ayresome Park a assistir aos jogos e a enviar longas descrições épicas sobre os mesmos, Po tratava de encontrar uma forma de permanecer em Inglaterra depois do Campeonato. A sua sorte ficou marcada no golo de Pak contra a Itália, o que prolongava a estadia da equipa e obrigava a comitiva de norte-coreanos a viajar pela Inglaterra. Po conseguiu fazer a viagem fora do autocarro que transportava todos os jornalistas que acompanhavam a equipa e seguiu de boleia num carro com alguns jornalistas ingleses e escoceses. O plano era simples, a meio do caminho abandonar o jornalismo e o Campeonato do Mundo e ficar por uma das cidades de Inglaterra. Quis a sorte que a fuga o deixasse em Halifax.

Mesmo não conhecendo ninguém na cidade, Po era um homem com um plano. Primeiro que tudo, teria que conseguir entregar-se na Polícia e ser reconhecido como refugiado político. O facto de falar um inglês perfeito, de a sua família ter ficado dividida na separação das duas Coreias e de ser, praticamente, um jornalista, ajudou, e muito, na obtenção do estatuto de refugiado. Depois, conseguiu completar os seus estudos em Halifax e não resistiu a colocar-se à prova no Halifax Town, a equipa mais frágil da cidade, que naqueles anos conhecia a glória na terceira e quarta divisões inglesas. Po jogou durante seis anos neste clube, conseguindo um total de dezoito jogos oficiais. Era um jogador fraco, pequeno, mas muito trabalhador. Beneficiava, também, do facto de ser um refugiado, um homem que recebia apoio social do clube e que, por isso, era muito acarinhado.

Mas aquilo que tornou Po, ou Mr. Poe como ficara conhecido em Halifax, famoso, eram as suas belíssimas crónicas no suplemento semanal do clube. Raramente jogando, Mr. Poe fazia os resumos dos jogos, leitura preferida por muitos dos adeptos, não pela fidelidade aos acontecimentos, mas pela razão contrária. Mr. Poe era um esteta, um homem preocupado com o espectáculo e a fantasia de todos os seus leitores. E sendo o Halifax Town uma equipa mais conhecida pelos jogos que perdia do que pelos que ganhava, era a literatura de Mr. Poe que tornava a leitura dos resumos dos jogos do clube tão apetecíveis.  Não tendo tido grande sucesso como jogador de futebol, o norte-coreano Hwang Po, que com a obtenção da nacionalidade inglesa ficou conhecido por Mr. Poe, era um fantasista da bola. Um verdadeiro artista da invenção literária, com uma bola ao pé.  Abandonando a prática do futebol, Mr. Poe ainda hoje encanta aqueles que, em Halifax, correm as ruas em busca das suas histórias sobre os clubes de futebol locais.