terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A missão da estrutura


O primeiro texto trata da Visão, Missão e Valores, questões que devem ser definidas no seio das equipas.

António Maceiras publica regularmente textos de opinião no site BasketMe (www.basketme.com).
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Pretendo neste texto explicar a importância daquilo a que chamamos Estrutura. Outros chamam-lhe Gestão, Administração, Staff ou, como os americanos, Front Office. Refiro-me ao pessoal não desportivo (nem treinadores, nem jogadores) que tornam possível que um clube funcione. No fundo, quem determina como o clube é e como funciona.

Um título que pretendesse indicar ao pormenor o teor deste texto seria “A Estrutura ao serviço da visão, da missão e dos valores de um clube”. Como não se trata aqui de uma conferência académica, decidi abreviá-lo, mas começarei, ainda assim, pelo princípio.

Qualquer organização que se preze deve analisar o sentido da sua existência, analisar o seu presente e planificar o seu futuro. É a isso que se chama definir a visão, a missão e os valores da organização. Para melhor explicar a quem não está familiarizado com o assunto, no âmbito dos clubes, poderíamos defini-lo da seguinte maneira:

Visão: aquilo que o clube é em si mesmo, o que representa, como é visto, enfim, o sentido da sua existência. Neste ponto poderíamos admitir variadas concepções do termo, mas a que não me parece discutível é o facto de que um clube profissional existe porque tem, atrás de si, uma comunidade (que poderia traduzir-se como seguidores, massa social, área geográfica, etc) interessada nele. O clube vive de cobrar entradas para assistirem aos seus jogos, às televisões por os retransmitir, aos patrocinadores para que ocupem, com as suas marcas, as camisolas e os suportes publicitários. Por norma, recebe subsídios de instituições públicas por projectar a imagem da comunidade que representa e pelo valores positivos que o desporto congrega. Todos os investimentos se devem a uma implantação popular que gera a repercussão das mensagens transmitidas. O interpretar de como se baseia a sua relação com a comunidade é o que eu entendo como parte da Visão que um clube deve definir. Um clube pode entender que o que o vincula à sua comunidade é oferecer-lhe êxitos desportivos que a tornam orgulhosa, ou então assumir-se como parte de uma obra social de uma instituição, ou ainda posicionar-se como uma organização dedicada a formar jogadores para o qual precisa de uma atracção em forma de equipa profissional. Em qualquer caso, é imprescindível que defina qual é a sua Visão.

Missão: são os objectivos estratégicos nos quais o clube se fixará para desenvolver-se no âmbito de uma actividade, uma vez definida a Visão.

Valores: são os padrões de funcionamento de acordo com os quais desenvolverá a sua Missão.

Chegados a este ponto, alguns pensarão “tanto trabalho para enfiar a bola num cesto”, enquanto outros poderão opinar que “é tão óbvio que não percebo porque se enrola tanto no assunto”. Mas o certo é que as árvores costumam encobrir o bosque e o ritmo vertiginoso a que se desenvolve a actividade num clube faz com que, muitas vezes, se esqueça o verdadeiro sentido da sua existência.

Quando quem dirige o clube (presidente e conselho de administração ou direcção) determina os pontos anteriores, deverá montar-se uma estrutura que se adapte aos objectivos. Deveriam fazê-lo de forma lógica, de cima para baixo, com cada responsável a escolher os colaboradores que mais se adequam às suas necessidades. Subentende-se que o normal é encontrarmos uma estrutura pré-existente, mas não deveríamos esquecer qual é o sentido lógico da formação da dita estrutura.

Toda esta explanação serve para chegar ao verdadeiro tema do meu artigo: a estrutura deve-se adequar ao que o clube (com máximo expoente na sua equipa profissional) necessita que esta lhe forneça. Não se trata de uma tarefa fácil. Há muita gente que percebe de negócios, também há muita gente que percebe de basquetebol, mas realmente conheço muito poucas que entendam do “negócio do basquetebol”, ou, dito de outra forma, de todas as actividades administrativas e técnicas que exijam conhecimentos mistos de ambas as fontes e de como se encaixam umas nas outras.

Quando um clube consegue ter todos estes aspectos definidos, logra uma vantagem determinante sobre aqueles que não o fizeram previamente. Torna-se capaz de tomar decisões a médio e longo prazo sem se ver arrastado pela espiral criada pelos resultados. De entre todos, os mais favorecidos na sua actividade são os treinadores e jogadores, que contam com um ambiente concebido para maximizar o seu rendimento, tanto nas condições de trabalho, como nas contratações realizadas.

Uma parte importante de conhecer o “negócio do basquetebol”(o que vale para qualquer desporto) é saber que não existe uma fórmula infalível. Em oposto a outros negócios onde várias empresas podem conviver com sucesso, no desporto só um ganha, embora vários possam ter trabalhado bem. Mais, pode dar-se o paradoxo de que mesmo que nenhuma equipa tenha trabalhado bem, ainda assim, se tenha um vencedor.

De qualquer maneira, e ainda que possam existir alguns tropeços pelo caminho, a consolidação de uma estrutura lógica e capacitada é, a longo prazo, a melhor forma de optimizar os resultados de uma organização.

Não sei se parecerá demasiado filosófico, mas resume-se a isto: saber o que queremos fazer, buscar os melhores (de cima a baixo) para o fazer e evitar cair pelo caminho.

traduzido por Luís Filipe Cristóvão

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