segunda-feira, 27 de maio de 2013

O que aprendemos sobre Jorge Jesus?

|Luís Filipe Cristóvão



Terminou a quarta temporada de Jorge Jesus à frente do SL Benfica e, logo, com uma carga dramática brutal, concentrada nas derradeiras semanas de uma época que podia ter sido de interminável festa para os benfiquistas. Mas, ao contrário do que a lógica indicava (alguma destas competições a equipa haveria de ganhar!), o pesadelo foi-se estendendo desde a receção ao Estoril, no Estádio da Luz, até ao Jamor, com passagens pelo Dragão e por Amesterdão.

O que aprendemos nós sobre Jorge Jesus nestes quatro anos?

A primeira coisa que julgo ser de destacar é termos aprendido que um treinador com uma carreira sólida nas equipas que lutam pelas competições europeias em Portugal é um bom treinador para uma equipa grande. Jorge Jesus não beneficiou nunca de ser moda ou de ser considerado a última Coca-Cola no deserto. Duvidaram dele até que chegou à Luz e colocou o Benfica a jogar o futebol mais estimulante que me lembro de ver com camisolas encarnadas em muitos anos. Mas, a verdade é que Jesus tinha (e tem) lugar numa grande equipa.

A segunda coisa que aprendemos é que estamos sempre a aprender. O Jorge Jesus da primeira temporada  não é o Jorge Jesus desta semana. O técnico português soube rodear-se de especialistas que elevaram o potencial das suas equipas. Compreendeu que o risco se deve fazer em prol da equipa e não em prol doutros interesses (Emerson vs Melgarejo, capice?). Aceitou que as coisas se medem com resultados e não com emoções. E, no fim de tudo isto, terminou mais uma temporada sem nada ganhar. Ou seja, mesmo na desgraça, terá aprendido que na compreensão da derrota está, mais das vezes, a semente da vitória.

O que nos leva a outro ponto. Com Jorge Jesus aprendemos que ter um ego inflado é fodido. A dúvida deve ser sistemática e, por isso mesmo, a cada jogo um treinador deve buscar as razões e caminhos de cada jogo, não apostando em opções cristalizadas. Modelo e filosofia de jogo não significa jogar sempre da mesma forma. Significa estar equipado, consciente e filosoficamente, para os desafios que cada adversário nos coloca a cada momento. O ego de Jorge Jesus foi uma barreira que ele demorou a transpor. Talvez hoje, um dia depois da final da Taça de Portugal perdida para o Vitória de Guimarães, ele compreenda.

Chegados aqui, o que terá aprendido Jorge Jesus?

Estou certo que aprendeu que podem existir diferentes formas de acreditar em si mesmo. Jorge Jesus é, hoje, um muito melhor treinador do que quando chegou ao Benfica, podendo aproveitar isso mesmo para começar um novo ciclo na sua carreira. Para o fazer na Luz, precisa mais do que a confiança de Luís Filipe Vieira. Precisa que os jogadores, no balneário, estejam incondicionalmente com ele (os sinais de Enzo Pérez e Óscar Cardozo parecem comprometer a lealdade de todo o plantel), precisa de adeptos que compreendam que no futebol, qualquer que seja o caminho para a vitória não se faz nunca de facilidades. Se a luta do Benfica for derrotar o FC Porto, Jorge Jesus talvez não seja a pessoa certa. Se a luta for ser uma grande equipa de futebol, então Jesus merece mais uma oportunidade.

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